sábado, 25 de abril de 2015

De filho para Mãe.


                           " - Se eu tivesse outra vida, iria querer você nela também. "

                " (...) Vai com Deus" , eu continuo fingindo que aceitei a sua partida, o que na verdade, partiu o meu coração, dilacerou a minha alma e levou metade de tudo que é vivo aqui por dentro. Eu olhei para o céu e podia jurar que você estava lá, me aconcheguei um pouco mais e percebi que cabia no seu abraço, pra minha inteira surpresa, você ainda estava ao meu lado. Encostei um pouco mais ao vento e pude sentir o dedilhar dos seus conselhos, os mesmos que eu ouvia quando eu ainda dentro de você, não sabia o que fazer. Quando eu ainda não era alguém e depois de grande, todas as vezes que continuava pensando não ser ninguém, quando eu consegui andar e quando eu aprendi que com isso eu poderia cair demasiadas vezes, quando também as quedas não eram provenientes dos meus passos, você esteve lá. Quando eu decidi que faria medicina, e depois Direito, e também engenharia, arquitetura aos finais de semana, publicidade aos feriados, e você me questionou sobre  como ficaria o curso de Moda, e era o que eu realmente queria ( Como você poderia saber disso?) Você estava lá e aplaudiu de pé toda e qualquer decisão, me disse que dinheiro, ganharíamos de qualquer forma, mas que os sonhos não se podem desistir, ou então, eles desistiriam de nós.
                   Eu me lembro precisamente do meu primeiro amor, você me curou e disse que a minha vida estaria repleta de machucados e que o importante é quem teria o meu poder de cura, eu não tinha entendido até precisar de um colo, de um abraço, de um olhar, e quem diria que um puxão de orelha poderia curar uma cegueira profunda, inebriante, aparentemente um poço sem fundo que eu mesmo cavei. Você me tirou, me resgatou, me fez acordar, é,  você estava lá. Estava, quando pedi para ir embora, quando bati a porta, quando virei a cara, quando disse não, quando tudo que eu fazia criava uma distância clara entre dois  pontos que não se tocariam nem mesmo no infinito, ao contrário de tudo, você sim é meu infinito.  Você foi embora sem um Adeus, talvez por que soubesse que um coração como o seu nunca termina. Um breve até logo,  comigo apostando todas as minhas vidas  e tantas outras quanto fossem necessárias para merecer novamente o seu amor. 
                A eternidade se faz clara em sua brevidade, incontestável contradição, repudiado egoísmo e relutante desejo de não ter fim, uma piada contada ao destino, que já tinha programado a sua ida na minha ausência, sem minha anuência, " (...) - Quanta covardia." .
           Eu queria sua eternidade combinada com todas as minhas outras vidas, queria te encontrar em qualquer esquina , queria estar em sua vida mesmo quando a sua memória falhar e seus olhos não me enxergarem mais, desejo ser pra você incontestavelmente e incondicionalmente a ligação entre como amar alguém que nem sempre vai merecer, mas mesmo assim você estará lá.
                Não estará fadado ao fim um amor como o nosso, em qualquer lugar que você esteja eu vou te encontrar, pode demorar uma vida inteira ou pra mim uma saudade inteira, tanto faz, mesmo assim eu vou te reconhecer até mesmo fantasiada da mãe dos outros, não se esquece um amor que nunca para, assim como não se cala um coração que vive para sempre.
              Eu sei que provavelmente, e neste caso com certeza,  esta carta retorne ao remetente, sem resposta, sem qualquer leitura, mas eu sei que enquanto o meu destinatário for você eu não me importarei com o silêncio das minhas próprias confusões. Não se ama, por que se ama em resposta, não se tem saudade, por que se concordou com tal, nem sempre o que se quer é uma resposta, o silêncio da minha escrita, só quer matar a saudade da sua ausência.

Dedicado.


M.Castro